O reino da consciência é
muito mais vasto do que aquilo que o pensamento é capaz de abranger. Quando
você deixa de acreditar em tudo o que pensa, você sai do pensamento e vê
claramente que quem está pensando não é quem você é essencialmente.
A mente funciona com
“voracidade” e por isso está sempre querendo mais. Quando você se identifica
com a sua mente, fica facilmente entediado e ansioso. O tédio demonstra que a
mente deseja avidamente mais estímulo, mais o que pensar, e que essa fome não
está sendo saciada. Quando você fica entediado, pode querer satisfazer a fome
da mente lendo uma revista, dando um telefonema, assistindo à tevê, navegando
na Internet, fazendo compras ou – o que é bem comum – transferindo a sensação
mental de carência e sua necessidade de quero mais para o corpo e se
satisfazendo temporariamente comendo mais.
A alternativa é aceitar o
tédio e a ansiedade e observar como é sentir-se entediado e ansioso. A medida
que você se dá conta dessa sensação, surge de repente um espaço e uma calma em
volta dela.
Primeiro é um pequeno
espaço interno, mas, à medida que esse espaço aumenta, o tédio começa a
diminuir de intensidade e de significado. Dessa forma, até o tédio pode ensinar
quem você é e quem não é. Você descobre que não é uma “pessoa entediada”.
O tédio é simplesmente um
movimento de energia condicionada dentro de você. Da mesma forma, você não é
uma pessoa irritada, rancorosa, triste ou medrosa. O tédio, a raiva, a tristeza
e o medo não são “seus”, não fazem parte da sua pessoa. Eles são estados da
mente humana.
E, por isso, vão e voltam.
Nada daquilo que vai e volta é você. “Estou entediado.” Quem sabe disso? “Estou
irritado, triste, com medo.” Quem sabe disso? Você é a pessoa que sabe disso.
Você não é seus sentimentos.
Qualquer tipo de
preconceito mostra que você está identificado com a mente pensante. Mostra que
você não está vendo o outro ser humano, está vendo apenas seu conceito sobre
aquele ser humano. Reduzir alguém a um conceito já é uma forma de violência.
O pensamento que não tem
raízes na consciência passa a servir apenas aos interesses daquele que pensa e
deixa de ter função.
A inteligência desprovida
de sabedoria torna-se muito perigosa e destrutiva. E nesse estado que se
encontra a maior parte da humanidade.
O predomínio do pensamento
na ciência e na tecnologia – embora intrinsecamente não seja um fato ruim nem
bom – tornou-se algo destrutivo, porque frequentemente esse pensamento não está
enraizado na consciência.
O próximo passo na evolução
humana é transcender o pensamento. Hoje é a nossa tarefa mais premente. Isso
não significa que não devemos mais pensar, mas simplesmente que não devemos nos
identificar com o pensamento nem ser dominados por ele.
Existe uma energia vital
que você pode sentir em todo o seu Ser, em cada célula do seu corpo,
independentemente dos seus pensamentos. Nesse estado de consciência, se você
precisar usar a mente para algum fim prático, ela estará presente.
E a mente funciona muito
bem quando a inteligência maior que é você se expressa através dela. Talvez
você não tenha se dado conta, mas aqueles breves períodos em que fica
“consciente sem pensar” já estão ocorrendo natural e espontaneamente em sua
vida.
Você pode estar fazendo
algum trabalho manual, andando pela casa, aguardando o embarque num aeroporto e
estar tão presente que a estática habitual do pensamento se interrompe e é
substituída por um estado de alerta.
Ou você pode estar olhando
o céu ou ouvindo alguém falar, sem fazer qualquer comentário mental. Suas
percepções se tornam transparentes como cristal, sem qualquer pensamento para
toldá-las.
Eckhart Tolle
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