Fato é que ninguém vive sem limites. Não existe
vida sem limitações. O que nos faz mais ou menos felizes é a forma que lidamos
com as limitações.
Como cada um tem seu karma, seu caminho, seu
aprendizado, os limites mudam de pessoa para pessoa, de fase da vida, de lugar,
de jeito... Mas limite é limite, e significa restrição e muito pouca gente sabe
contornar, vencer, aceitar as restrições.
Se não gostamos de críticas, o que sentimos, então,
frente a um impedimento real, a uma pessoa que atravessa nosso caminho com más
intenções, às vezes, realmente desejando o mal?
A atitude mais comum, e infelizmente mais natural,
é reagir de modo negativo. Algumas pessoas brigam frontalmente, desafiam, mesmo
sabendo que podem sair perdendo, porque nessas horas o instinto vence. Outras
pessoas, mais racionais, talvez menos impulsivas, recolhem os sentimentos, não
respondem, não confrontam, mas isso não significa que não sintam ódio. Mesmo
quando esse sentimento é elaborado e entendido como ressentimento.
Infelizmente, as relações em conflito não estão
apenas no ambiente profissional, ainda que por lá seja bem comum a gente se
deparar com desafetos, o que é muito ruim, pois essa limitação nos impede de
evoluir, de mostrar nosso melhor; impede, inclusive, que vibremos de uma forma
mais leve que nos permita entrar em sintonia com um universo que também pode
ser muito generoso. Aliás, generosidade é um maravilhoso antídoto para qualquer
limitação. E imagino que você, amigo leitor, deve estar se perguntando: como
ser generoso quando estamos enfrentando tantas restrições, até financeiras???
Compreendo essa dificuldade e vou usar o caso do
Ângelo justamente para explicar um pouco melhor a questão da abertura, da
coragem, e da generosidade para vencer os limites. Ângelo, um rapaz de origem
alemã, foi criado numa cidade pequena do Rio Grande do Sul. Como ele mesmo
disse, cresceu numa família de imigrantes, gente simples e muito trabalhadora.
Muito jovem, ele se imaginava longe do campo, queria ganhar o mundo, trabalhar
na cidade, e ao mesmo tempo que fazia seus planos, sentia-se culpado em não
gostar muito da família. Disse que passava horas quieto no seu canto imaginando
o futuro, e enquanto seus irmãos e outros colegas se divertiam, ele preferia
estudar.
Naturalmente, seu desejo se cumpriu, pois ele
colocou muita força e determinação para chegar onde chegou, e aos quarenta e
poucos anos, quando veio me procurar para entender o que estava limitando o seu
progresso, já tinha conquistado muita coisa. Mas chegou à conclusão que havia um
limite na sua vida, uma barreira, pois depois de um certo patamar, ele sentiu
que deixou de vencer. Querendo entender um pouco melhor a vida espiritual e
superar esses limites ele, procurou a Terapia de Vidas Passadas, porque tinha
absoluta certeza que suas atitudes hoje eram corretas, que nunca parou de
lutar. Então, por que as coisas davam errado?
A Sessão de Vidas Passadas mostrou um retrato muito
fiel desta vida presente, onde ele também deixou a família de lado para seguir
como guerreiro, vencendo sempre as lutas e criando uma grande barreira para se
proteger. Naquela vida não se casou, não criou outros laços, de tão focado que
estava em seus objetivos, e mesmo sendo um excelente guerreiro, nunca alcançou
um cargo de mando.
No mesmo dia, apareceu uma outra história de um
menino abandonado que queria brincar, e sentia a ausência do pai, do núcleo familiar.
E claro que o Ângelo não gostou de nada disso. Mas não sei o que ele imaginava,
pois o objetivo de vidas passadas é justamente analisar os aprisionamentos em
busca de libertação, tentando abrir a energia para entender melhor que tipo de
atitude está impedindo a felicidade.
Percebo que para muita gente o problema está
justamente no foco que as pessoas colocam nas suas questões. Normalmente,
ninguém quer tocar a dor, as pessoas querem soluções que resolvam sem doer, mas
como os mentores ensinam, a verdadeira cura vem de dentro, da compreensão das
atitudes que limitam a nossa vida, por que apesar de parecer que a limitação
vem do mundo que não se abre, na verdade, o limite é auto imposto, quando
ficamos estanques numa postura, sem nos abrir para mudar.
E era exatamente esse o problema do Ângelo, ele
queria a mudança, mas não queria fazer nada diferente. Quando perguntei da sua
última viagem, que não fosse a trabalho, ele me relatou sua lua-de-mel com a
ex-esposa!
A vida dele estava tão fechada, que nem no final de
semana ele tinha energia, ou vontade de sair com os amigos. Quando saía era
para beber, o que trazia uma certa alegria momentânea, mas vazia.
Relacionamentos, ele dizia ter vários, mas nenhum mais íntimo, no sentido
emocional, pois quando percebia que os laços estavam se aprofundando preferia
seguir para uma outra aventura.
Sugeri uma terapia, pois sem compromisso, sem
abertura emocional, até a inteligência racional se compromete. As pessoas não
sabem, mas ficam emburrecidas quando não se permitem expressar emoções. Pois os
canais se fecham. Precisamos dar expressão ao que sentimos, ao que pensamos.
Ângelo me confidenciou que não sabia ser político, mostrar-se, fazer seu
marketing pessoal, preferia usar sua competência.
O discurso dele era quase bom, porque todo mundo
precisa desenvolver seus talentos, investir em cursos e tudo mais, mas
precisamos também aprender a nos colocar, ser gentis com as pessoas, cultivar
amizades e relacionamentos, pois depois de um certo estágio da vida, ter boas relações
é mais importante do que um currículo.
Ângelo saiu meio perplexo do nosso encontro, pois
dentro de tantas limitações que ele criou para si, já tinha imaginado as
possíveis respostas que encontraria no nosso encontro. O novo assustou, mas sem
fazer algo diferente, como obter outras respostas?
Assim, amigo leitor, fica minha sugestão, de abrir
a mente e o coração, para aqueles que desejam encontrar outros resultados. Não
basta se esforçar, é preciso também ser criativo e aberto à sorte.
por Maria Silvia Orlovas - morlovas@terra.com.br