sexta-feira, 1 de agosto de 2014

OS PENSAMENTOS SÃO OBSTINADOS, IRREDUTÍVEIS


As nuvens que vagueiam pelo céu não têm raízes nem lar... E o mesmo é verdadeiro em relação a seus pensamentos, e o mesmo é verdadeiro em relação a seu céu interior: seus pensamentos não têm raízes, não têm lar; tal como as nuvens, eles vagueiam. Assim você não precisa combatê-los, nem sequer precisa tentar detê-los.
Isso deve tornar-se um profundo conhecimento em você, porque sempre que uma pessoa se torna interessada em meditação, começa por tentar deter o pensamento. E, se você tentar deter o pensamento, ele jamais se deterá, porque o próprio esforço para detê-lo é um pensamento, o próprio esforço para meditar é um pensamento, o próprio esforço para atingir o estado de Buda é um pensamento. E como você pode um pensamento com outro pensamento? Como pode deter a mente criando outra mente? 

Você estará se agarrando à outra. E isso continuará e continuará, até à náusea, e não terá fim.
Não lute, porque quem lutará? Quem é você? Apenas um pensamento; portanto, não se faça campo de batalha de uma luta de pensamentos. 

Seja, antes, uma testemunha, observe apenas a flutuação dos pensamentos. Eles cessarão, mas não porque você os tenha detido. 

Cessarão porque você se tornou mais receptivo, e não por qualquer esforço de sua parte; não, dessa forma eles jamais cessam, eles resistem. Tente, e descobrirá: tente deter um pensamento e o pensamento persistirá. Os pensamentos são obstinados, irredutíveis. São hatha yogis, persistem. Você os repele e eles retornam um milhão de vezes. Você se cansará, eles não.
(...) Se você tenta deter um pensamento, não o pode deter. Ao contrário, o próprio esforço para detê-lo dá-lhe energia, o próprio esforço para evitá-lo torna-se atenção. Assim, sempre que você quer evitar algo dá demasiada atenção a esse algo. Se você não quiser pensar um pensamento, já estará pensando nele.
(...) Não há necessidade de deter a mente. os pensamentos não têm raízes, são vagabundos sem lar; você não precisa se preocupar com eles. 

Observe, simplesmente observe, sem olhar para eles; simplesmente observe.

Se os pensamentos vêm, não se sinta mal por isso; se você tiver a mais leve impressão de que eles não são bons, já começará a combater. É certo e natural: assim como as folhas chegam para as árvores, os pensamentos chegam para a mente. Isso está certo, é exatamente o que deveria ser. Se eles não surgem, é belo. Conserve-se , simplesmente, dentro de si mesmo, e olhe, olhe sem olhar.

E, quanto mais você olhar, menos encontrará; quanto mais profundamente você olhar, maior número de pensamentos desaparecerão, dispersar-se-ão. Desde que você saiba disso, tem a chave em sua mão. E essa chave revela o mistério mais secreto: o mistério do estado de Buda.

As nuvens que vagueiam pelo espaço

Não têm raízes nem lar;
também assim são os pensamentos distintivos
vagando através da mente.

Desde que a mente-eu é vista,
cessa a discriminação.

E, desde que você possa ver que os pensamentos são flutuantes, que você não é os pensamentos, mas o espaço nos quais eles flutuam, você terá atingido sua mente-eu, terá compreendido o fenômeno da sua percepção. Então, a discriminação cessará: então, nada será bom, nada será mau, nada a ser desejado, nada a ser evitado.

Você aceita e se torna desprendido e natural. Você, simplesmente, começa a flutuar com a existência, sem ir a parte alguma, porque não há meta; você não se move em direção de alvo algum, porque não há alvo. 

Você começa a gozar cada momento, seja o que for que ele traga — seja o que for, lembre-se. E você pode gozá-lo, porque agora não tem desejos nem expectativas. Você nada pede; portanto é grato ao que quer que receba. Só o estar sentado e respirar é tão belo, só estar em algum lugar é tão maravilhoso, que cada momento da vida torna-se uma coisa mágica, um milagre em si mesmo.


O S H O — Tantra: a Suprema Compreensão

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