quinta-feira, 11 de setembro de 2014

QUANTO CONFIAR?



Em diversos aspectos, a confiança é um bloqueio para muitos de nós. Normalmente, acontece um mecanismo de defesa que nem sempre é consciente e a pessoa se vê controlando a capacidade de confiança nos outros, na vida, nos relacionamentos; parece que sempre tem algo à espreita, prestes a puxar o tapete, se ela não cuidar de se proteger, pensam alguns. E aos poucos, um mecanismo regulador -tipo contabilidade de quem confiou mais e se doou-, entra em ação. E a pessoa fica refém desse sistema precário, que provoca ainda mais ansiedade e ativa os medos inconscientes a respeito da entrega.

Confiar é soltar, sair do controle, entregar, abrir mão. Será que você consegue fazer isso apenas olhando nos olhos de alguém que acabou de conhecer? Difícil, né? E é difícil, pois raramente as pessoas olham nos olhos, ficam se esquivando do olhar do outro e pouco acessam a profundeza e a sinceridade que somente o olhar é capaz de revelar. Faça um teste: olhe nos olhos da pessoa com firmeza e veja se ela sustenta o olhar. Se sustentar, pode confiar. 

Não é possível mentir com os olhos, ocultar e mostrar aquilo que não se é. Com os olhos revelamos emoções, sensações e um retrato da nossa alma, nossos registros mais profundos. Essas janelas da alma guardam arquivos que somente a pessoa é capaz de ler e, se nos abrimos para olhar o outro nos olhos, podemos fazer uma troca incrível, com sinergia tamanha que as palavras simplesmente desaparecem diante da grandeza desse encontro.

Quando a vida pede a entrega, é a hora de você dizer o quanto está pronto para viver a experiência que a existência está proporcionando. Às vezes, o que a vida pede é um salto no escuro, no vazio, sem nenhuma garantia. Neste caso, há que se ter muita abertura de coração para saltar no vazio. Especialmente se esse vazio representa a vastidão dos seus próprios medos. Mas aí é que está o poder: lançar-se em direção ao maior medo até desmitificá-lo, atravessá-lo e deixá-lo definitivamente para trás, como uma sombra. O medo de perder, de não dar certo, de fracassar, de ficar só, de não conseguir, mais uma vez aciona todos os nãos à entrega e à confiança. Se você os tomar como sinalizadores de seu sistema de defesa, poderá perder uma tremenda chance de superar essa fragilidade e esse mecanismo reativo diante da vida.

A única maneira de experimentar a confiança no fluxo da vida é abrir mão do controle, parar de imaginar e contar para si mesmo que isso ou aquilo é o melhor para você. Como pode saber se é o melhor, ou não, se nem ao menos conhece a si mesmo como deveria? Somente uma dimensão bem mais profunda que a da sua personalidade sabe exatamente o que é melhor. E a vida não vai lhe pedir nada menos que isso para que saia da sua zona de conforto e se solte dos troncos e raízes na beira do rio para experimentar a força e a energia das águas. levando-o em direção ao oceano. Vai lhe pedir a entrega, a confiança de que o que irá lhe acontecer será para o seu bem. No final, as experiências sempre trazem crescimento pessoal, mesmo que machuquem, causem dor e sofrimento. Mas isso também às vezes acontece por causa da teimosia em não querer mudar, abrir mão do apego ou sair do lugar. 

Até chegar à resiliência leva um tempo, que será do tamanho da rigidez. Quanto mais rígido, inflexível em suas verdades e crenças, mais demorado será o processo. Tudo bem, já que é você mesmo que escolhe as situações da sua vida. Ao menos é um consolo a quem já entendeu que nada é por acaso e que o mundo não é responsável pelos seus problemas. Você os cria e os resolve no seu tempo. Quanto poder há nisso! É uma tremenda força compreender que existe a possibilidade de reverter o quadro, de mudar de lugar, deixar de ser água parada, tornar-se rio. E no fluir, sentir que não está sozinho, que o Universo caminha junto e cuida de você, que o cosmo inteiro se move, que as pessoas à sua volta o apoiam se você pedir e deixar.

Quanto confiar? Até o tamanho da sua alma, das suas asas, do seu coração, até o infinito, pois nem o céu é o limite.

Valéria Bastos


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