Em diversos aspectos, a confiança é um bloqueio para muitos
de nós. Normalmente, acontece um mecanismo de defesa que nem sempre é
consciente e a pessoa se vê controlando a capacidade de confiança nos outros,
na vida, nos relacionamentos; parece que sempre tem algo à espreita, prestes a
puxar o tapete, se ela não cuidar de se proteger, pensam alguns. E aos poucos,
um mecanismo regulador -tipo contabilidade de quem confiou mais e se doou-,
entra em ação. E a pessoa fica refém desse sistema precário, que provoca ainda
mais ansiedade e ativa os medos inconscientes a respeito da entrega.
Confiar é soltar, sair do controle, entregar, abrir mão.
Será que você consegue fazer isso apenas olhando nos olhos de alguém que acabou
de conhecer? Difícil, né? E é difícil, pois raramente as pessoas olham nos
olhos, ficam se esquivando do olhar do outro e pouco acessam a profundeza e a
sinceridade que somente o olhar é capaz de revelar. Faça um teste: olhe nos
olhos da pessoa com firmeza e veja se ela sustenta o olhar. Se sustentar, pode
confiar.
Não é possível mentir com os olhos, ocultar e mostrar aquilo que não
se é. Com os olhos revelamos emoções, sensações e um retrato da nossa alma,
nossos registros mais profundos. Essas janelas da alma guardam arquivos que
somente a pessoa é capaz de ler e, se nos abrimos para olhar o outro nos olhos,
podemos fazer uma troca incrível, com sinergia tamanha que as palavras
simplesmente desaparecem diante da grandeza desse encontro.
Quando a vida pede a entrega, é a hora de você dizer o
quanto está pronto para viver a experiência que a existência está
proporcionando. Às vezes, o que a vida pede é um salto no escuro, no vazio, sem
nenhuma garantia. Neste caso, há que se ter muita abertura de coração para
saltar no vazio. Especialmente se esse vazio representa a vastidão dos seus
próprios medos. Mas aí é que está o poder: lançar-se em direção ao maior medo
até desmitificá-lo, atravessá-lo e deixá-lo definitivamente para trás, como uma
sombra. O medo de perder, de não dar certo, de fracassar, de ficar só, de não
conseguir, mais uma vez aciona todos os nãos à entrega e à confiança. Se você
os tomar como sinalizadores de seu sistema de defesa, poderá perder uma
tremenda chance de superar essa fragilidade e esse mecanismo reativo diante da
vida.
A única maneira de experimentar a confiança no fluxo da vida
é abrir mão do controle, parar de imaginar e contar para si mesmo que isso ou
aquilo é o melhor para você. Como pode saber se é o melhor, ou não, se nem ao
menos conhece a si mesmo como deveria? Somente uma dimensão bem mais profunda
que a da sua personalidade sabe exatamente o que é melhor. E a vida não vai lhe
pedir nada menos que isso para que saia da sua zona de conforto e se solte dos
troncos e raízes na beira do rio para experimentar a força e a energia das
águas. levando-o em direção ao oceano. Vai lhe pedir a entrega, a confiança de
que o que irá lhe acontecer será para o seu bem. No final, as experiências
sempre trazem crescimento pessoal, mesmo que machuquem, causem dor e
sofrimento. Mas isso também às vezes acontece por causa da teimosia em não querer
mudar, abrir mão do apego ou sair do lugar.
Até chegar à resiliência leva um
tempo, que será do tamanho da rigidez. Quanto mais rígido, inflexível em suas
verdades e crenças, mais demorado será o processo. Tudo bem, já que é você
mesmo que escolhe as situações da sua vida. Ao menos é um consolo a quem já
entendeu que nada é por acaso e que o mundo não é responsável pelos seus
problemas. Você os cria e os resolve no seu tempo. Quanto poder há nisso! É uma
tremenda força compreender que existe a possibilidade de reverter o quadro, de
mudar de lugar, deixar de ser água parada, tornar-se rio. E no fluir, sentir
que não está sozinho, que o Universo caminha junto e cuida de você, que o cosmo
inteiro se move, que as pessoas à sua volta o apoiam se você pedir e deixar.
Quanto confiar? Até o tamanho da sua alma, das suas asas, do
seu coração, até o infinito, pois nem o céu é o limite.
Valéria Bastos
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