Quem não conhece os problemas causados por ações impulsivas?
Agir mesmo sabendo que não era a hora... falar mesmo sabendo que é melhor ficar
quieto... são pequenas ações que podem gerar grandes problemas!
Quando seguimos nossos impulsos sem nos consultarmos,
tornamo-nos reféns de nossas próprias ações. No entanto, podemos superar os
padrões automáticos de comportamento. Isto é, sentir o impulso e ainda assim
escolher como reagir.
O mundo pode nos pressionar, mas nós podemos nos auto liberar.
Para tanto, precisamos inicialmente conhecer como funciona nossa mente diante
das situações de pressão.
Inicialmente, precisamos aprender a reconhecer e nomear os
sinais físicos e mentais de uma atitude impulsiva, para então podermos dominar
nossas respostas. Mas não basta parar por aí. Será preciso treinar inúmeras
vezes essa atitude interna de auto observação para cultivar a confiança de que
vale a pena não sermos vítimas de nossas próprias atitudes impensadas.
Diante de uma explosão emocional, contar até 10 antes de
reagir pode funcionar. Pois quando estamos muito ativados, os impulsos advindos
do centro emocional do cérebro (sistema límbico) são mais velozes do que
aqueles que saem do centro racional, o córtex pré-frontal, capazes de controlar
as emoções. Ao contar até 10, damos uma chance para nosso cérebro fazer um
circuito neuronal capaz de ativar nossa racionalidade! Com o córtex pré-frontal
funcionando novamente, voltamos a ter também a empatia para com os outros.
Desta forma, já não queremos mais agredir, mas sim nos entender.
Não basta contermos o impulso agressivo, é preciso
processá-lo. Pois senão iremos implodir e sofrer os danos desta energia não
elaborada.
Refletir sobre nós mesmos não quer dizer criticarmos
maciçamente nossas atitudes nem tampouco nos perdoarmos justificando nossas
ações com atitudes indulgentes: "Não soube fazer diferente". Ok,
podemos não ter sabido como ter feito diferente... mas, a questão é: uma vez
que agora sabemos queremos de fato mudar?
Observar-se requer familiaridade consigo mesmo para poder ir
além da culpa e da vergonha. Observar-se significa aceitar-se diante do
desconforto ao mesmo tempo em que nos motivamos e nos esforçamos para cultivar
uma nova atitude. Quando nos compromissamos com a mudança interna surge o sabor
de seguirmos em frente "mais leves".
Encararmo-nos frente a frente, requer mais treino do que
coragem. É um hábito que nos torna pessoas mais interessantes para nós mesmos.
Quando evitamos nossas emoções ou nos criticamos continuamente, acabamos por
nos tornar uma péssima companhia para nós mesmos. Não é assim mesmo? Há dias em
que não aguentamos nossa própria presença, nossa própria voz.
Não basta nos autocontrolarmos se não formos capazes de nos
regularmos internamente. O autocontrole só irá gerar bem-estar se
desenvolvermos uma percepção interna capaz de nos autoorganizarmos tanto no
nível emocional como cognitivo, isto é, no nível do entendimento.
O neurocientista Daniel Siegel, em seu livro "O Poder
da Visão Mental" (Ed. BestSeller), denomina a capacidade de nos
observarmos como visão mental. Para ele, este é nosso sétimo sentido, sem visão
mental, nossa vida é uma vida anestesiada. Neste livro, Siegel explica de modo
simples e claro como nosso cérebro funciona para mantermos atitudes mentais
organizadoras como a de abertura, observação e objetividade.
Cultivamos abertura quando deixamos de lado as expectativas
e recebemos as coisas como elas são, em vez de insistirmos que sejam como
gostaríamos que fossem. Sem a ditadura do pensamento rígido e dos preconceitos,
conseguimos ver o mundo em suas particularidades, abrindo-nos para o novo. No
entanto, devido aos condicionamentos e às memórias arquivadas em experiências
anteriores, em geral não nos deixamos permear pelo mundo externo. Sem tal
abertura, vivenciamos a realidade externa como um prolongamento de nossa
realidade interna. Isto é, o mundo será agradável ou desagradável conforme
nosso humor momentâneo.
É curioso notar como temos uma chance maior de perceber o
mundo mais objetivamente quando ele se torna aquém ou em excesso de acordo com
nossos desejos e necessidades. Quando tudo parece chegar de acordo com nossos
níveis de expectativa não paramos para pensar que o mundo não é apenas o que
pensamos e sentimos sobre ele!
Segundo Daniel Siegel, a habilidade de observar é a
capacidade para perceber o "eu" mesmo enquanto estamos vivenciando um
evento. Ela nos coloca em um quadro de referências mais amplo e expande nossa
perspectiva a cada momento. Ao reconhecer o ambiente em que nos encontramos,
começamos a sair do comportamento habitual. Em outras palavras, se noto as
nuances à minha volta, tenho a chance de escolher se quero interagir com elas
ou não!
Desta forma, conseguiremos adquirir objetividade: sermos
capazes de pensar e sentir sem nos deixarmos levar pela força habitual destes
pensamentos e emoções. Com objetividade, reconhecemos que nossos pensamentos e
sentimentos como uma expressão de nosso mundo interno, mas não como uma verdade
absoluta. Com objetividade, conseguimos discernir entre o que sentirmos e
queremos continuar sentindo. Ao cultivarmos a aptidão de estarmos conscientes
de como estamos direcionando nossa mente, ganhamos um novo espaço interior. Já
não estamos mais condenados a sentir um ciúme sem controle, uma raiva que nos
arrebata ou um ressentimento opressor. Saímos da paralisia interna! Podemos nos
mover internamente!
Na medida em que passamos a nos perceber com abertura,
observação e objetividade, ganhamos mais e mais espaço interior, que por sua
vez gera a flexibilidade necessária para fazermos novas associações. Surgem
novas ideias, tornamo-nos criativos. Vívidos.
Quanto mais espaço interior adquirimos, mais inteligentes
emocionalmente nos tornamos. Curiosamente, quanto mais visão mental adquirimos
sobre nós mesmos, mais habilidade temos para perceber os outros: pois quando conseguirmos
sentir nosso estado mental, o caminho fundamental para a ressonância com outros
também está aberto. Sem resistência para percebermos a nós mesmos e ao outro,
algo totalmente novo pode ocorrer!
Bel Cesar
belcesar@ajato.com.br
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