As pessoas sofrem porque não sabem quem são. Não sabem
intimamente, profundamente quem realmente são. Não praticando o
autoconhecimento, não se interiorizando, torna-se difícil de não se focar no
mundo exterior, portanto se tornado dependente do que ele oferece ou não.
Então, as pessoas procuram do lado de fora algo que preencha o
vazio interior. Este vazio é o esquecimento de sua essência, de sua partícula
divina. Em não havendo o reconhecimento desta divindade, a pessoa sente um
vazio, além de uma insegurança martirizante, uma vez que o falso eu ganha forma
e se diz dono do mundo.
Mas nada do que vem de fora pode preencher seus interiores,
isso é naturalmente impossível. A mudança sempre se dá de dentro para fora, não
existe outro meio. Mas o falso eu não reconhece isso, pois quando tenta olhar
para dentro, descobre que sua existência é questionável, portanto fica inseguro
e concentra suas forças no exterior, onde sabe que tem a aceitação de sua existência
pela sociedade em que vive.
Logo, a fagulha para iniciar-se o processo do fim do
sofrimento começa com o autoconhecimento. Isso porque quando se chega a um
determinado nível, acaba-se percebendo que qualquer segurança é falsa, que a
verdadeira realidade está baseada na total incerteza.
E isso liberta, pois conhecer a si mesmo é libertar-se da
necessidade de se sentir seguro, já que no descobrimento de si mesmo, não
existe insegurança, tampouco segurança, porque você compreende que é Uno e
portanto é parte de tudo o que existe. Contudo você vê isso como um fato, não
como uma teoria, por isso é libertador.
O fim do sofrimento ainda passa pelo refreamento dos desejos,
das necessidades. O ser humano experencia a si mesmo como uma figura
eternamente insatisfeita, procurando a cada minuto uma nova meta a ser
alcançada. Esse é o ato da ação e do esforço.
Com isso, mesmo depois de alcançados todos os objetivos, ainda
haverá necessidade de se criar novas metas, pois que o ato de parar de se mover
assusta o ego. Ele precisa estar em constante processo mental, pois não suporta
o silêncio, não suporta a pausa, não suporta a si mesmo.
O desejo então deve ser refreado. Pois que quando não há sua
realização ou mesmo no processo em que ele se dá, sentimos frustração. E da
frustração surge o sofrimento. E é o sofrimento o carro chefe de todas as
doenças, de todos os crimes, de todas as tristezas. De maneira que, se todos
nós nos bastássemos, nos sentíssemos plenos naquilo que já somos em nossos
interiores, não procuraríamos no exterior motivos para satisfazer nossos
vazios.
Isso não significa não ter nenhuma aspiração, nenhum sonho ou
vontade. Ao contrário, a vida foi feita para nos expressarmos livremente,
todavia é preciso acabar totalmente com o sentimento de necessidade. E é aí que
entra nosso querido desapego.
Deseje sem o sentimento de carência; sonhe sem o sentimento de
vazio; aspire sem a necessidade de realizar algo. Novamente, realize pela
não-ação.
Quando o desejo vem com o desapego, dizemos que ele está
refreado. Ele não vem com um sentimento de vazio, de necessidade. Além de
tornar-se mais poderoso, uma vez que sua vibração condiz com aquilo a que ele
mesmo se propõe, a pessoa não sofre, pois não se preocupa com os resultados.
Então ela aproveita a jornada e se esquece do objetivo final.
As pessoas então sofrem porque não sabem quem são e por isso
não desejam para expressarem-se, mas para preencherem seus vazios. Quanto mais
profundamente cada um for se conhecendo, menor será seu sofrimento. Portanto,
conhecer a si mesmo é a chave para o fim dele.
Marcos Keld - Autor do Livro Potencialidade Pura
Nenhum comentário:
Postar um comentário