O perdão começa com a decisão de não se vingar.
Esta não é uma atitude voluntariosa, mas sim uma decisão
que vem da vontade de se curar e crescer.
O instinto incita à vingança mas, como já vimos, isso
não trás bons resultados.
Perdoar é quebrar o ciclo da violência, é negar-se a
combater com as mesmas armas de ódio do adversário, é voltar a ser livre.
O perdão requer introspecção
A ofensa provoca confusão e pânico, a pessoa
ferida sente-se perturbada, a sua
integridade e tranquilidade interior foram ameaçada. A perturbação nas emoções
contribui para a confusão nas atitudes da pessoa. Perante a ofensa a pessoa
sente-se impotente e humilhada. As feridas mal curadas juntam-se assim a esta
orquestra desafinada.
A grande tentação consiste em negar-se a tomar
consciência da própria pobreza interior e em aceitá-la. São várias as
estratégias
psíquicas adoptadas: negar o mal-estar, grande
vontade de esquecer, fazer de vítima,
gastar energia em encontrar
culpados, procurar um castigo digno da afronta,
acusar-se a si mesmo e fazer-se culpado ou ainda brincar aos heróis e fazer-se
de intocável e magnânimo.
Ceder a estas atitudes compromete o êxito do
perdão que requer libertar-se de si
mesmo antes de poder libertar-se do agressor.
O perdão requer a tomada de consciência de si mesmo,
de todos os sentimentos que a ofensa desperta, perdoar o outro supõe que,
antes, se perdoe a si mesmo.
O perdão convida a encarar novas perspectivas da
relação humana
O perdão é um “convite à imaginação”. O perdão não é
esquecer o passado mas antes a possibilidade
de um futuro
diferente do imposto
pelo passado ou
pela memória. Libertado dos seus dolorosos vínculos ao passado, o
ofendido que perdoa pode permitir-se viver plenamente o presente e ante ver uma
nova relação com o seu ofensor no futuro. Poder olhar com novos olhos,
“re-ver”. É ter a capacidade de ver para além da ferida e do ressentimento, a
partir de uma perspectiva mais ampla que oferece novos modos de ser e de atuar.
O perdão valoriza a dignidade do ofensor
Para poder perdoar é imprescindível que não se deixe
de acreditar na dignidade da pessoa que nos feriu. É muito difícil fazê-lo
“a quente”. É preciso dar tempo ao
tempo. Por detrás do “monstro” descobrimos muitas vezes uma pessoa débil,
frágil,
psiquicamente doente, ferida... uma pessoa como nós,
uma pessoa capaz de mudar e evoluir.
O perdão não é somente libertar-se do peso da dor mas
também é libertar o outro do juízo penalizador e severo que dele fizemos; é
reabilitá-lo aos seus próprios olhos na sua dignidade humana.
O perdão é reflexo da misericórdia divina
Para os crentes, o perdão situa-se no ponto de
convergência do humano e do espiritual. Perdoar etimologicamente significa “dar
plenamente”,
implica uma ideia de plenitude porque expressa uma forma de amor levada ao
extremo. Amar, apesar da ofensa sofrida, requer forças espirituais que superam
as forças humanas.
A SABEDORIA DE PERDOAR E PERDOAR-SE
Emma Martínez Ocaña
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