"Ao
viajar pelo Oriente, mantive contatos com monges do Tibete, da Mongólia, do
Japão e da China. Eram homens serenos, comedidos, recolhidos e em paz nos seus
mantos cor de açafrão.
Outro
dia, eu observava o movimento do aeroporto de São Paulo: a sala de espera cheia
de executivos com telefones celulares, preocupados, ansiosos, geralmente
comendo mais do que deviam. Com certeza, já haviam tomado café da manhã em
casa, mas como a companhia aérea oferecia outro café, todos comiam vorazmente.
Aquilo me fez refletir: "Qual dos dois modelos produz felicidade?”.
Estamos
construindo super-homens e super mulheres, totalmente equipados, mas
emocionalmente infantilizados. Uma progressista cidade do interior de São Paulo
tinha, em 1960, seis livrarias e uma academia de ginástica; hoje, tem sessenta
academias de ginástica e três livrarias! Não tenho nada contra malhar o corpo,
mas me preocupo com a desproporção em relação à malhação do espírito. Acho
ótimo, vamos todos morrer esbeltos: "Como estava o defunto?".
"Olha, uma maravilha, não tinha uma celulite!"
A
publicidade não consegue vender felicidade, então passa a ilusão de que felicidade
é o resultado da soma de prazeres: "Se tomar este refrigerante, vestir
este tênis, usar esta camisa, comprar este carro, você chega lá!" O grande
desafio é começar a ver o quanto é bom ser livre de todo o condicionamento.
Há uma
lógica religiosa no consumismo pós-moderno. Na Idade Média, as cidades
adquiriam status construindo uma catedral; hoje, constrói-se um Shopping
Center. É curioso: a maioria dos Shoppings-Centers têm linhas arquitetônicas de
catedrais estilizadas; neles não se pode ir de qualquer maneira, é preciso
vestir roupa de missa de domingo. E ali dentro sente-se uma sensação
paradisíaca: não há mendigos, crianças de rua, sujeira pelas calçadas...
Entra-se
naqueles claustros ao som do gregoriano pós-moderno, aquela musiquinha de esperar
dentista. Observam-se os vários nichos, todas aquelas capelas com os veneráveis
objetos de consumo, acolitados por belas sacerdotisas.
Quem pode
comprar à vista, sente-se no reino dos céus. Quem deve passar cheque
pré-datado, pagar a crédito, entrar no cheque especial, sente-se no purgatório.
Mas se não pode comprar, certamente vai se sentir no inferno... Felizmente,
terminam todos na eucaristia pós-moderna, irmanados na mesma mesa, com o mesmo
suco e o mesmo hambúrguer do Mc Donald...
Costumo
advertir os balconistas que me cercam à porta das lojas: "Estou apenas
fazendo um passeio socrático". Diante de seus olhares espantados, explico:
"Sócrates, filósofo grego, também gostava de descansar a cabeça
percorrendo o centro comercial de Atenas. Quando vendedores como vocês o
assediavam, ele respondia: “Estou apenas observando quanta coisa existe de que
não preciso para ser feliz!”
Autor:
Frei Beto
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