Texto sobre Sabedoria Budista
Tudo em
nossas vidas, posses, riquezas, relacionamentos, é temporário e está em
constante mutação. Nosso corpo, nossa fala, mente e ambiente mudam minuto a
minuto, segundo a segundo. No tempo em que uma agulha leva para perfurar
sessenta pétalas de flor empilhadas uma sobre a outra, nada no universo
permanece igual. O nosso pior inimigo pode um dia vir a ser o nosso melhor
amigo. Casais hoje tão apaixonados que mal podem ficar separados por uma hora,
depois de alguns anos poderão vir a sentir repulsa só de ver um ao outro. Não
há nada que não oscile, decaia ou se transforme.
A vida é
imprevisível, nossos processos mentais, instáveis. Nossos humores são
susceptíveis às condições externas. Em uma manhã acordamos contentes e tudo
parece estar perfeito. Todo movimento envolve mudança. Cada frase que falamos,
ao terminar, dá lugar à próxima. Cada pensamento ou emoção desaparece e dá
lugar a outro. Isso acontece com tudo, em toda parte.
Simplesmente
não estamos sintonizados com este processo. Presumimos que alguma coisa vai
durar até que, de repente, notamos que envelheceu. No mesmo momento em que uma
casa é construída já começa a se deteriorar; em cem anos ou menos, estará
lamentavelmente danificada. Apesar de devotarmos nossa vida e satisfazer nossas
necessidades e ânsias, qualquer felicidade que encontremos será fugaz. Fazemos
planos baseados em coisas que constantemente nos escapam pelos dedos.
Quando
menos esperamos, elas serão memórias distantes. Quantas vezes fomos felizes?
Quantas vezes ficamos tristes? Alegria e tristeza vêm e vão o tempo todo.
Nenhuma delas dura muito. Cada emoção e cada paixão surge momentaneamente e
desaparece como um desenho traçado com o dedo na água.
Precisamos
perceber que não temos liberdade nem controle. Não podemos escolher quanto
tempo iremos viver ou como iremos morrer. Não queremos envelhecer, ainda assim
envelhecemos. Não queremos adoecer, ainda assim adoecemos. Não queremos morrer,
ainda assim a morte é inevitável, ela pode vir a qualquer momento, quer sejamos
jovens, velhos, saudáveis ou enfermos; isso é irrelevante.
Por mais
maravilhosas que possam ser nossa família, nossa carreira ou nossas posses, não
levaremos nenhuma delas para além do umbral da morte. E no dia seguinte à nossa
morte, nossos entes queridos não vão querer nosso cadáver em casa.
Se
entendêssemos que os objetos aos quais nos apegamos são como miragens ou
bolhas, o nosso apego enfraqueceria. Se soubéssemos que todo relacionamento é
frágil e propenso a mudança, perceberíamos que não há tempo para conflitos. Se
compreendêssemos verdadeiramente que podemos não ter mais um dia sequer, pelo
menos não destruiríamos as nossas oportunidades e as dos outros de desfrutar
dessa vida enquanto a temos. Quando sabemos que cada momento pode ser o último,
teremos a perspectiva correta.
Algumas
pessoas acham que a ideia de impermanência é deprimente, mas ela é realmente a
verdade da nossa experiência. Da mesma maneira que o fogo é quente e a água
molhada, a impermanência é apenas o que é; ela não é boa nem má. Aceitá-la cura
o pensamento mágico de que podemos protelar o processo inexorável da mudança, e
nos dá uma capacidade maior de aceitação e mais alegria.
Chagdud
Tulku Rinpoche, Mestre Tibetano
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