TERCEIRA PARTE
"Precisamos dar um
passo para o desconhecido.
Por um certo tempo, todos os
limites ficarão perdidos. Por um certo tempo, você vai se sentir atordoado. Por
um certo tempo, você vai se sentir muito amedrontado e abalado, como se tivesse
havido um terremoto. Mas se você for corajoso e não voltar para trás, se você
não
voltar a cair no ego, mas
for sempre em frente, existe um centro oculto dentro de você, um centro que
você tem carregado por muitas vidas.
Esse centro é a sua alma, o
eu.
Uma vez que você se aproxime
dele, tudo muda, tudo volta a se assentar novamente. Mas agora esse
assentamento não é feito pela sociedade. Agora, tudo se torna um cosmos e não
um caos, nasce uma nova ordem. Mas essa não é a ordem da sociedade - essa é a
própria ordem da existência.
É o que Buda chama de
Dhamma, Lao Tzu chama de Tao, Heráclito chama de Logos. Não é feita pelo homem.
É a própria ordem da existência. Então, de repente tudo volta a ficar belo, e
pela primeira vez, realmente belo, porque as coisas feitas pelo homem não podem
ser belas. No máximo você pode esconder a feiúra delas, isso é tudo. Você pode
enfeitá-las, mas elas nunca podem ser belas...
O ego tem uma certa
qualidade: a de que ele está morto. Ele é de plástico. E é muito fácil obtê-lo,
porque os outros o dão a você. Você não precisa procurar por ele; a busca não é
necessária. Por isso, a menos que você se torne um buscador à procura do desconhecido,
você ainda não terá se tornado um indivíduo. Você é simplesmente mais um na
multidão. Você é apenas uma turba. Se você não tem um centro autêntico, como
pode ser um indivíduo?
O ego não é individual. O
ego é um fenômeno social - ele é a sociedade, não é você. Mas ele lhe dá um
papel na sociedade, uma posição na sociedade. E se você ficar satisfeito com
ele, você perderá toda a oportunidade de encontrar o eu. E por isso você é tão
infeliz. Como você pode ser feliz com uma vida de plástico? Como você pode
estar em êxtase ser bem-aventurado com uma vida falsa?
E esse ego cria muitos
tormentos. O ego é o inferno. Sempre que você estiver sofrendo, tente
simplesmente observar e analisar, e você descobrirá que, em algum lugar, o ego
é a causa do sofrimento. E o ego segue encontrando motivos para sofrer...
E assim as pessoas se tornam
dependentes, umas das outras. É uma profunda escravidão. O ego tem que ser um
escravo. Ele depende dos outros. E somente uma pessoa que não tenha ego
é, pela primeira vez, um mestre;
ele deixa de ser um escravo.
Tente entender isso. E
comece a procurar o ego - não nos outros, isso não é da sua conta, mas em você.
Toda vez que se sentir infeliz, imediatamente feche os olhos e tente descobrir
de onde a infelicidade está vindo, e você sempre descobrirá que o falso centro
entrou em choque com alguém.
Você esperava algo e isso
não aconteceu. Você espera algo e justamente o contrário aconteceu - seu ego
fica estremecido, você fica infeliz. Simplesmente olhe, sempre que estiver
infeliz, tente descobrir a razão.
As causas não estão fora de
você.
A causa básica está dentro
de você - mas você sempre olha para fora, você sempre pergunta: 'Quem está me
tornando infeliz?' 'Quem está causando a minha raiva?' 'Quem está causando a
minha angústia?'Se você olhar para fora, você não perceberá. Simplesmente feche
os olhos e sempre olhe para dentro. A origem de toda a infelicidade, da raiva e
da angústia, está oculta dentro de você, é o seu ego.
E se você encontrar a
origem, será fácil ir além dela. Se você puder ver que é o seu próprio ego que
lhe causa problemas, você vai preferir abandoná-lo - porque ninguém é capaz de
carregar a origem da infelicidade, uma vez que a tenha entendido.Mas lembre-se,
não há necessidade de abandonar o ego. Você não o pode abandonar. E se você
tentar abandoná-lo, simplesmente estará conseguindo um outro ego mais sutil,
que diz: 'tornei-me humilde'...
Todo o caminho em direção ao
divino, ao supremo, tem que passar através desse território do ego. O falso tem
que ser entendido como falso. A origem da miséria tem que ser entendida como a
origem da miséria - então ela simplesmente desaparece. Quando você sabe que ele
é o veneno, ele desaparece. Quando você sabe que ele é o fogo, ele desaparece.
Quando você sabe que esse é o inferno, ele desaparece.
E então você nunca diz: 'eu
abandonei o ego'. Você simplesmente irá rir de toda essa história, dessa piada,
pois você era o criador de toda essa infelicidade...É difícil ver o próprio
ego. É muito fácil ver o ego nos outros. Mas esse não é o ponto, você não os
pode ajudar.
Tente ver o seu próprio ego.
Simplesmente o observe.
Não tenha pressa em
abandoná-lo, simplesmente o observe.
Quanto mais você observa,
mais capaz você se torna. De repente, um dia, você simplesmente percebe que ele
desapareceu. E quando ele desaparece por si mesmo, somente então ele realmente
desaparece. Porque não existe outra maneira. Você não pode abandoná-lo antes do
tempo. Ele cai exatamente como uma folha seca.
Quando você tiver
amadurecido através da compreensão, da consciência, e tiver sentido com
totalidade que o ego é a causa de toda a sua infelicidade, um dia você
simplesmente vê a folha seca caindo... e então o verdadeiro centro surge.
E esse centro verdadeiro é a
alma, o eu, o Deus, a verdade, ou como quiser chamá-lo. Você pode lhe dar
qualquer nome, aquele que preferir."
Osho em Além das Fronteiras
da Mente.
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