...E
SURGE O VERDADEIRO EU...
Através do ego a sociedade controla você. Você tem
que se comportar de certa maneira, porque somente assim a sociedade irá
apreciá-lo. Você tem que caminhar desse jeito, você tem que rir assim, você
deve seguir determinadas condutas, uma moralidade, um código. Somente assim a
sociedade o apreciará, e se ela não o fizer, o seu ego ficará abalado. E quando
o ego fica abalado, você não sabe onde está, você não sabe quem você é.
Os outros deram-lhe a ideia. E essa ideia é o ego.
Tente entendê-lo o mais profundamente possível, porque ele tem que ser jogado
fora. E a não ser que você o jogue fora, nunca será capaz de alcançar o Eu. Por
estar viciado no falso centro, você não pode se mover, e você não pode olhar
para o Eu. E lembre-se: vai haver um período intermediário, um intervalo,
quando o ego estará se despedaçando, quando você não saberá quem você é, quando
você não saberá para onde está indo; quando todos os limites se dissolverão.
Você estará simplesmente confuso, um caos.
Devido a esse caos, você tem medo de perder o ego.
Mas tem que ser assim. Temos que passar através do caos antes de atingir o
centro verdadeiro. E se você for ousado, o período será curto. Se você for
medroso e novamente cair no ego, e novamente começar a ajeitá-lo, então, o
período pode ser muito, muito longo; muitas vidas podem ser desperdiçadas…
Até
mesmo o fato de ser infeliz lhe dá a sensação de “eu sou”.
Afastando-se do que
é conhecido, o medo toma conta; você começa sentir medo da escuridão e do caos
– porque a sociedade conseguiu clarear uma pequena parte de seu ser… É o mesmo
que penetrar numa floresta. Você faz uma pequena clareira, você limpa um pedaço
de terra, você faz um cercado, você faz uma pequena cabana; você faz um pequeno
jardim, um gramado, e você sente-se bem. Além de sua cerca – a floresta, a
selva. Mas aqui dentro tudo está bem: você planejou tudo.
Foi assim
que aconteceu. A sociedade abriu uma pequena clareira em sua consciência. Ela
limpou apenas uma pequena parte completamente, e cercou-a. Tudo está bem ali.
Todas as suas universidades estão fazendo isso. Toda a cultura e todo o
condicionamento visam apenas limpar uma parte, para que ali você possa se
sentir em casa.
E então você passa a sentir medo. Além da cerca
existe perigo.
Além da cerca você é, tal como você é dentro da
cerca – e sua mente consciente é apenas uma parte, um décimo de todo o seu ser.
Nove décimos estão aguardando no escuro. E dentro desses nove décimos, em algum
lugar, o seu centro verdadeiro está oculto.
Precisamos ser ousados, corajosos. Precisamos dar
um passo para o desconhecido.
Por um certo tempo, todos os limite ficarão
perdidos. Por um certo tempo, você vai se sentir atordoado. Por um certo tempo,
você vai se sentir muito amedrontado e abalado, como se tivesse havido um
terremoto.
Mas se você for corajoso e não voltar para trás, se
você não voltar a cair no ego, mas for sempre em frente, existe um centro
oculto dentro de você, um centro que você tem carregado por muitas vidas. Esse
centro é a sua alma, o Eu.
Uma vez que você se aproxime dele, tudo muda, tudo
volta a se assentar novamente. Mas agora esse assentamento não é feito pela
sociedade.
Agora, tudo se torna um cosmos e não um caos, nasce uma nova ordem.
Mas essa não é a ordem da sociedade – essa é a própria ordem da existência.
É o que Buda chama de Dhamma*, Lao Tzu chama de
Tao, Heráclito chama de Logos. Não é feita pelo homem. É a própria ordem da
existência. Então, de repente tudo volta a ficar belo, e pela primeira vez,
realmente belo, porque as coisas feitas pelo homem não podem ser belas. No
máximo você pode esconder a feiura delas, isso é tudo. Você pode enfeitá-las, mas
elas nunca podem ser belas…
O ego tem uma certa qualidade: a de que ele está
morto. Ele é de plástico. E é muito fácil obtê-lo, porque os outros o dão a
você. Você não precisa procurar por ele; a busca não é necessária. Por isso, a
menos que você se torne um buscador à procura do desconhecido, você ainda não
terá se tornado um indivíduo. Você é simplesmente mais um na multidão. Você é
apenas uma turba. Se você não tem um centro autêntico, como pode ser um
indivíduo?
O ego não é individual. O ego é um fenômeno social
– ele é a sociedade, não é você. Mas ele lhe dá um papel na sociedade, uma
posição na sociedade. E se você ficar satisfeito com ele, você perderá toda a
oportunidade de encontrar o Eu. E por isso você é tão infeliz. Como você pode
ser feliz com uma vida de plástico? Como você pode estar em êxtase ser
bem-aventurado com uma vida falsa? E
esse ego cria muitos tormentos. O ego é o inferno. Sempre que você estiver
sofrendo, tente simplesmente observar e analisar, e você descobrirá que, em
algum lugar, o ego é a causa do sofrimento. E o ego segue encontrando motivos
para sofrer…
E assim as pessoas se tornam dependentes, umas das
outras. É uma profunda escravidão. O ego tem que ser um escravo. Ele depende
dos outros. E somente uma pessoa que não tenha ego é, pela primeira vez, um
mestre; ele deixa de ser um escravo.
Tente entender isso. E comece a procurar o ego –
não nos outros, isso não é da sua conta, mas em você. Toda vez que se sentir
infeliz, imediatamente feche os olhos e tente descobrir de onde a infelicidade
está vindo, e você sempre descobrirá que o falso centro entrou em choque com
alguém.
Você esperava algo e isso não aconteceu. Você
espera algo e justamente o contrário aconteceu – seu ego fica estremecido, você
fica infeliz. Simplesmente olhe, sempre que estiver infeliz, tente descobrir a
razão.
As causas não estão fora de você.
A causa básica está dentro de você – mas você
sempre olha para fora, você sempre pergunta: ‘Quem está me tornando infeliz?’
‘Quem está causando a minha raiva?’ ‘Quem está causando a minha angústia?’
Se você olhar para fora, você não perceberá.
Simplesmente feche os olhos e sempre olhe para dentro. A origem de toda a
infelicidade, da raiva e da angústia, está oculta dentro de você, é o seu ego.
E se você encontrar a origem, será fácil ir além
dela. Se você puder ver que é o seu próprio ego que lhe causa problemas, você
vai preferir abandoná-lo – porque ninguém é capaz de carregar a origem da
infelicidade, uma vez que a tenha entendido.
Mas lembre-se, não há necessidade de abandonar o
ego. Você não o pode abandonar. E se você tentar abandoná-lo, simplesmente
estará conseguindo um outro ego mais sutil, que diz: ‘tornei-me humilde’…
Todo o caminho em direção ao divino, ao supremo,
tem que passar através desse território do ego. O falso tem que ser entendido
como falso. A origem da miséria tem que ser entendida como a origem da miséria
– então ela simplesmente desaparece. Quando você sabe que ele é o veneno, ele
desaparece. Quando você sabe que ele é o fogo, ele desaparece. Quando você sabe
que esse é o inferno, ele desaparece.
E então você nunca diz: ‘eu abandonei o ego’. Você
simplesmente irá rir de toda essa história, dessa piada, pois você era o
criador de toda essa infelicidade…
É difícil ver o próprio ego. É muito fácil ver o
ego nos outros. Mas esse não é o ponto, você não os pode ajudar.
Tente ver o seu próprio ego. Simplesmente o
observe.
Não tenha pressa em abandoná-lo, simplesmente o
observe. Quanto mais você observa, mais capaz você se torna. De repente, um
dia, você simplesmente percebe que ele desapareceu. E quando ele desaparece por
si mesmo, somente então ele realmente desaparece. Porque não existe outra
maneira. Você não pode abandoná-lo antes do tempo. Ele cai exatamente como uma
folha seca.
Quando você tiver amadurecido através da
compreensão, da consciência, e tiver sentido com totalidade que o ego é a causa
de toda a sua infelicidade, um dia você simplesmente vê a folha seca caindo… e
então o verdadeiro centro surge.
E esse centro verdadeiro é a alma, o Eu, o deus, a
verdade, ou como quiser chamá-lo. Você pode lhe dar qualquer nome, aquele que
preferir.”
OSHO, Além das Fronteiras da Mente.
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