"Você
precisa de tempo para a maioria das coisas na vida: é preciso tempo para
aprender uma nova atividade, para construir uma casa, para se especializar em
alguma profissão, para preparar um chá.
Mas o
tempo é inútil para a coisa mais valiosa da vida, a única que realmente
importa: a realização pessoal, o que significa saber quem você é essencialmente
além da superfície do "eu" - além do nome, do tipo físico, da sua
história.
Você não
pode encontrar a si mesmo no passado ou no futuro. O único lugar onde você pode
se encontrar é no Agora.
Os que
buscam uma dimensão espiritual querem a auto realização ou a iluminação no
futuro. Ser uma pessoa que está em busca significa que você precisa do futuro.
Se é
nisso que você acredita, isso se torna verdade para você: precisará de tempo
até perceber que não precisa de tempo para ser quem você é.
Quando
olha para uma árvore, você toma consciência da existência da árvore. Quando
pensa ou sente alguma coisa, toma consciência do pensamento ou da sensação.
Quando passa por uma experiência boa ou ruim, toma consciência dessa
experiência.
Essas
afirmações parecem verdadeiras e óbvias, mas, se você examiná-las atentamente,
perceberá que, de uma forma sutil, elas contêm uma ilusão básica que se torna
inevitável quando se usa a linguagem.
O
pensamento e a linguagem criam uma aparente dualidade, como se houvesse uma
pessoa e uma consciência separadas. Isso não existe. A verdade é que você não é
uma pessoa que toma consciência da árvore, do pensamento, do sentimento ou da
experiência.
Você é a
consciência na qual e através da qual essas coisas existem. Você se percebe
como a consciência na qual todo o conteúdo de sua vida se desdobra?
Quando
você diz "Eu quero conhecer a mim mesmo", você é o "eu".
Você é o
conhecimento. Você é a consciência através da qual tudo é conhecido. E que não
pode conhecer a si mesmo. Porque você é a própria consciência. Não existe nada
a ser conhecido além disso.
O
"eu" não pode se transformar num objeto de conhecimento, de
consciência. O "eu" é a própria consciência. Assim, você não pode se
tornar um objeto para si mesmo.
Quando
isso acontece, surge a ilusão do "eu" autocentrado - porque
mentalmente você fez de si mesmo um objeto. "Este sou eu", você diz.
A partir dessa afirmação, você passa a ter uma relação com você mesmo e a
contar para os outros e para si mesmo a sua história.
Quando
você sabe que é a consciência na qual a vida externa acontece, torna-se
independente do que existe externamente e perde a necessidade de buscar sua
identidade nos fatos, nos lugares e nas situações.
Em outras
palavras: as coisas que acontecem ou deixam de acontecer perdem a importância,
perdem o peso e a gravidade. Sua vida passa a ter outra graça e leveza. O mundo
é então visto como uma dança cósmica, a dança da forma – só isso.
Quando
você sabe quem realmente é, tem uma enorme e intensa sensação de paz. Essa
sensação poderia ser chamada de alegria, porque alegria é isto: uma paz
vibrante e intensa. E a alegria de saber que seu ser é a própria essência da
vida, antes de a vida assumir uma forma. E a alegria de Ser – de ser quem você
realmente é.
Assim
como a água pode assumir a forma sólida, líquida ou gasosa, a consciência pode
ser considerada "sólida" como matéria física, "líquida"
como mente e pensamento, ou sem qualquer forma como consciência pura.
A
consciência pura é a Vida antes de se manifestar, e essa Vida olha para o mundo
da forma através dos seus olhos, porque a consciência é quem você é.
Quando
você se vê assim, então se reconhece em todas as coisas. É um estado de total clareza
de percepção.
Você
deixa de ser alguém com um passado que pesa e através do qual todas as
experiências são interpretadas. Quando você percebe sem interpretar, pode
sentir o que está percebendo.
O máximo
que podemos dizer usando palavras é que há um campo de calma-alerta em que a
percepção acontece. Através de "você", a consciência sem forma
torna-se consciente de si mesma.
A vida da
maioria das pessoas é conduzida pelo desejo e pelo medo.
O desejo
é a necessidade de acrescentar algo a você para ser mais plenamente você mesmo.
Todos os medos são medo de perder alguma coisa e, portanto, tornar-se menor,
ser menos. Esses dois movimentos nos impedem de perceber que Ser não é algo que
possa ser dado ou tirado.
O Ser em
sua plenitude já está dentro de você. Agora."
Eckhart
Tolle em O Poder do Silêncio.
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