Queixar-se é uma das estratégias prediletas do ego para se
fortalecer. Cada reclamação é uma pequena história que a mente cria e na qual
acreditamos inteiramente. Não importa se ela é feita em voz alta ou apenas em
pensamento. Alguns egos que talvez não tenham muito mais com o que se
identificar sobrevivem apenas com queixas. Quando estamos presos a um ego
assim, reclamar, sobretudo de alguém, é habitual e, é claro, inconsciente, o
que mostra que não sabemos o que estamos fazendo.
Uma atitude típica desse padrão é aplicar rótulos mentais
negativos às pessoas, seja na frente delas ou, como é mais comum, falando sobre
elas com alguém ou apenas pensando nelas. Xingar é o modo mais rude de atribuir
esses rótulos e de mostrar a necessidade que o ego tem de estar certo e
triunfar sobre os outros: i*****, desgraçado, prostituta, todas essas
afirmações sobre as quais não se pode argumentar. No nível seguinte, descendo
pela escada da inconsciência, estão os gritos. Não muito abaixo disso se
encontra a violência física.
Veja se você consegue capturar, ou melhor, perceber, a voz
na sua cabeça - talvez no exato instante em que ela está reclamando de algo - e
reconhecê-la pelo que ela é: a voz do ego, não mais que um padrão condicionado,
um pensamento. Sempre que a observar, compreenderá que você não é ela, e sim
aquele que tem consciência dela. Na verdade, você é a consciência que está
consciente da voz. Atrás, em segundo plano, está a consciência. À frente, se
situa a voz, aquele que pensa. Dessa maneira, você estará se libertando do ego,
livrando-se da mente não observada. No momento em que você se torna consciente
do ego, a rigor ele não será mais o ego, e sim um velho padrão mental
condicionado.
O ego implica em inconsciência. Ele e a consciência não
podem coexistir. O velho padrão mental, ou hábito mental, pode sobreviver e se
manifestar por um tempo porque tem o
impulso de milhares de anos de inconsciência humana coletiva atrás de si. No
entanto, toda vez que é reconhecido, ele se enfraquece.
Eckhart Tolle
Nenhum comentário:
Postar um comentário