Isso já é
agressivo. Até mesmo o esforço de mudar um único indivíduo é agressivo. Quem é
você para decidir o que está certo para determinada pessoa? Quem é você para
decidir que o mundo, se for mudado segundo as suas ideias, será um lugar
melhor? Você está assumindo o papel de um salvador, e essa é uma maneira
inconsciente de dominar as pessoas. É para o bem delas próprias, é claro, para que
não se rebelem contra você.
Todos os pais
fazem isso com os filhos. "Pelo próprio bem deles" eles os
disciplinam, obrigando-os a fazer coisas que eles não querem fazer,
impondo-lhes alguma religião sem o consentimento deles. De todas as maneiras
possíveis, a liberdade deles está sendo cerceada. Quanto menos liberdade, menos
individualidade... E, no momento em que o filho se tornou cem por cento
obediente, ele morreu! A vida do filho estava em sua desobediência; em sua
rebeldia estava o seu ser.
E não se pode
dizer que as intenções dos pais são erradas. Eu nunca desconfio das intenções
de ninguém, mas essa não é a questão. A questão é: qual é o resultado daquilo?
A intenção é algo que está dentro de você - você pode ter todas as boas ou as
más intenções - mas as mantenha para si mesmo. No momento em que começa a agir
em função delas, as boas intenções tornam-se bem mais perigosas do que as más
intenções. Uma má intenção pode ser imediatamente retaliada, condenada, não
somente pela pessoa sobre a qual você a está impondo, mas até por aquelas que a
estão testemunhando. Mas uma boa intenção é perigosa.
Ambas estão
fazendo o mesmo trabalho: destruindo a liberdade do indivíduo de ser ele mesmo,
de forma que a natureza dele de modo algum seja diferente daquilo que você
quer. A rebelião é possível contra a má intenção e será apoiada por todos; mas
contra as boas intenções a rebelião torna-se impossível. Todos apoiarão a
pessoa com boas intenções que está destruindo o indivíduo. Ninguém virá para
apoiar o indivíduo.
Não é função nossa
salvar o mundo. Em primeiro lugar, nós nunca o criamos. Não é responsabilidade
nossa para onde ele vai e o que vai acontecer com ele. Nossa única
responsabilidade é que, enquanto estivermos aqui, vivamos uma vida de alegria,
de amor, de felicidade. Enquanto estivermos aqui, a nossa responsabilidade é
saber quem somos e em que consiste esta vida.
E o milagre é que,
ao fazer isso, você já está mudando o mundo sem ser agressivo. Não há em você
nenhuma ideia de mudar o mundo e, assim, a questão da agressão não surge. Você
não tem sequer uma vaga concepção de mudar o mundo e torná-lo como você acha que
ele deveria ser. Você está simplesmente vivendo a sua vida, da qual você é
dono. Você está tentando vivê-la da maneira mais intensa e total possível,
porque a vida é muito curta e o momento seguinte é tão incerto que temos de
encarar cada momento como se fosse o último.
Apenas a própria
ideia - como se este fosse o último momento - vai transformá-lo. Então, não há
necessidade de ter inveja, não há necessidade de sentir raiva. No último
momento da vida, quem quer estar com raiva e com inveja, sentir-se triste e
infeliz? No último momento da vida, naturalmente todos os ressentimentos e
todas as queixas sobre a vida desaparecem. Se cada momento for encarado como o
último - como ele deve ser encarado, porque o próximo é incerto - você estará
mudando a si mesmo; e a sua mudança será contagiante. Ela pode mudar o mundo
todo, embora nunca tenha pretendido isso.
Essa é a minha
maneira de mudar o mundo sem ser agressivo. Até agora todos os reformadores,
revolucionários, messias, foram violentos, agressivos. Eles estavam visando a
salvá-lo. Nunca lhe perguntaram se você quer ou não ser salvo; você era apenas
alguma coisa sobre a qual eles tinham de decidir. Quem lhes deu autoridade para
isso? Eles nem sequer pediram sua permissão. E, se você não mudar segundo a maneira
de eles verem as coisas, estão dispostos a atirá-lo para sempre em um inferno
escuro, sombrio.
E, é claro, se
você estiver disposto - disposto a cometer um suicídio espiritual e
simplesmente se tornar uma sombra dessas pessoas -, elas estão lhe oferecendo
todas as recompensas que você pode imaginar no Paraíso. Os hindus tentaram
mudar o mundo, os cristãos tentaram mudar o mundo - todas as religiões têm
tentado fazer isso. O comunismo, o socialismo, o fascismo, todos fizeram isso.
As pessoas que
estão comigo têm de ser totalmente diferentes, têm de ser um novo fenômeno no
mundo. Não vão interferir na vida de ninguém e, no entanto, vão transformar o
mundo todo. Isso é mágica de verdade. Você não tem a intenção, não impõe, não
interfere, não invade ninguém. Você não faz nenhum julgamento: "Você está
errado e eu vou endireitá-lo". Você não está preocupado com isso; isso é
problema dele, é a vida dele. Se alguém quiser destruí-la, tem o direito de
destruí-la. Se alguém quer viver estupidamente, tem o total direito de fazer
isso. É a vida dele. Como ele a vivencia, como ele a vive ou se ele permanece
quase morto, adormecido do berço até o túmulo, essa continua sendo a vida dele
e ele é dono dela. Por isso, aqueles que estão comigo não têm de interferir na
vida de ninguém.
Eu tenho uma
abordagem totalmente diferente para mudar o mundo: cada um mude apenas a si
mesmo. E quando estiver rejubilando e dançando, vai ver que alguém ao seu lado
começou a dançar com você, porque todos nós somos a mesma consciência humana
com o mesmo potencial. Ninguém é estrangeiro.
Podemos falar
idiomas diferentes, mas entendemos uma linguagem. Então, quando você está
feliz, sorrindo, o outro que pode não estar sorrindo de repente sente um
sorriso surgir no rosto. Você pode ser um estranho, mas você sorriu para a
pessoa, acenou para ela. Você mudou a pessoa sem que ela soubesse e sem que
você tivesse essa intenção.
Grandes mestres -
como Lao Tsé, Chuang Tsé, Lieh Tsé - chamaram isso de "ação sem
ação". Você não está realizando nenhuma ação, mas algo está acontecendo. E
quando as coisas acontecem por si mesmas, elas têm uma beleza, porque no fundo
delas está a liberdade. Se a pessoa acenou, se a pessoa sorriu, você não está
lhe pedindo que faça isso; ela é totalmente livre para não olhar para você. Mas
há uma sincronicidade entre os corações.
Conhecendo esse
segredo da sincronicidade, estou propondo um tipo de revolução totalmente novo.
Mude a si mesmo, e nessa própria mudança você mudou uma parte do mundo. Você é
uma parte do mundo. Se a sua mudança é algo que o torna rico, o torna alegre, o
torna feliz, o torna uma canção, então é difícil aos outros resistir a cantar
com você, dançar com você, florescer com você. Um único indivíduo pode
transformar o mundo todo sem nem sequer mencionar a palavra
"transformação".
Iniciei a jornada
sozinho. Não bati na porta de ninguém chamando para virem comigo, mas,
curiosamente, as pessoas começaram a vir e a caravana começou a se tornar cada
vez maior. Elas vieram por si mesmas. Se vieram estar comigo, isso foi decisão
delas; se quiserem ir embora, não há problema. Elas são tão livres como sempre.
Já iniciamos o
processo da entrada do mundo em uma nova fase da história humana. Não somos
agressivos; não estamos tentando mudar o mundo. Não estamos sequer interessados
no mundo; estamos simplesmente vivendo a vida, desfrutando a vida - somos
totalmente egoístas! Ainda assim, o que não aconteceu em milhares de anos é
possível por meio de nós. Mas será uma ação sem ação, uma transformação que não
foi intencional, que não foi imposta.
Uma transformação
que se disseminou sozinha, e as pessoas entenderão que isso aconteceu desse
modo porque, no fundo, todos os corações falam a mesma linguagem.
Osho, em
"Poder, Política e Mudança - Como Ajudar o Mundo A Se Tornar Um Lugar
Melhor?"